quarta-feira, 18 de abril de 2012

"SOU UMA MÁQUINA DESEJANTE!"

Nunca tive um blog, essa é a minha primeira experiência com tal ''ferramenta''. Uma ferramenta bem usada pode ser como uma arma, pode criar problemas, intervenções no andamento não linear da vida. E se um blog pode isso, como nunca tive um? Acreditando, fantasiando, desejando e delirando que pessoas irão ler o que escrevo/produzo aqui é que pensei em iniciar minhas postagens falando sobre o que considero a ''mola propulsora'' da humanidade - O Desejo. Com isso farei das palavras de Gilles Deleuze (Filósofo, criador ao lado de Félix Guattari da Esquizoanálise) as minhas, no que se refere ao tema 'desejo' colocando aqui um trecho de uma entrevista que o mesmo concedeu a Claire Parnet e pode ser encontrada no livro - Conversações. O desejo por muito tempo, talvez fruto da influência até então crescente, no século XIX e XX, do pensamento psicanalítico, era/é visto como nascido de uma falta, Freud (em sua 2° teoria do aparelho psíquico) analogicamente se referia que ''a perda do objeto parental'' (os pais) para as crianças suscitava o desejo - a criança percebe que ela não é a exclusividade do amor dos pais (no Complexo de édipo) e com isso cria-se uma falta no aparelho psíquico, tornando-a assim um sujeito desejante. Com certeza ele considerava que "desejar" era mais que isso, maior que esse exemplo ''simplista'' que dei. O que realmente é importante aqui, é que a psicanálise sempre tratou o desejo como fruto da falta, e aprisionou o mesmo a essa característica 'faltosa'. Deleuze & Guattari, ao escreverem o Anti-Édipo, tentaram com algum sucesso desvencilhar o desejo dessa ideia. E possibilitaram um desejo produtivo, libertador, revolucionário, que em determinado momento em sua vasta literatura eles não fazem mais distinção entre desejo e delírio. Como considero o desejo histórico/social a força mais intensa dos seres humanos aqui vai a parte da entrevista de Deleuze. Espero com isso, que seja produtivo ''desconstruirmos" a ideia de desejo e que possamos possibilitar ''desejos''.

“(..)Queríamos dizer uma coisa bem simples. Tínhamos uma grande ambição, a saber, que até esse livro ( O Anti-Edipo), quando se faz um livro é porque se pretende dizer algo novo. Achávamos que as pessoas antes de nós não tinham entendido bem o que era o desejo, ou seja, fazíamos nossa tarefa de filósofo, pretendíamos propor um novo conceito de desejo. As pessoas, quando não fazem filosofia, não devem crer que é um conceito muito abstrato, ao contrário, ele remete a coisas bem simples, concretas. Veremos isso. Não há conceito filosófico que não remeta a determinações não filosóficas, é simples, é bem concreto. Queríamos dizer a coisa mais simples do mundo: que até agora vocês falaram abstratamente do desejo, pois extraem um objeto que é, supostamente, objeto de seu desejo. Então podem dizer: desejo uma mulher, desejo partir, viajar, desejo isso e aquilo. E nós dizíamos algo realmente simples: vocês nunca desejam alguém ou algo, desejam sempre um conjunto. Não é complicado. Nossa questão era: qual é a natureza das relações entre elementos para que haja desejo, para que eles se tornem desejáveis? Quero dizer, não desejo uma mulher, tenho vergonha de dizer uma coisa dessas. Proust disse, e é bonito em Proust: não desejo uma mulher, desejo também uma paisagem envolta nessa mulher, paisagem que posso não conhecer, que pressinto e enquanto não tiver desenrolado a paisagem que a envolve, não ficarei contente, ou seja, meu desejo não terminará, ficará insatisfeito. Aqui considero um conjunto com dois termos, mulher, paisagem, mas é algo bem diferente. Quando uma mulher diz: desejo um vestido, desejo tal vestido, tal chemisier, é evidente que não deseja tal vestido em abstrato. Ela o deseja em um contexto de vida dela, que ela vai organizar o desejo em relação não apenas com uma paisagem, mas com pessoas que são suas amigas, ou que não são suas amigas, com sua profissão, etc. Nunca desejo algo sozinho, desejo bem mais, também não desejo um conjunto, desejo em um conjunto. Podemos voltar, são fatos, ao que dizíamos há pouco sobre o álcool, beber. Beber nunca quis dizer: desejo beber e pronto. Quer dizer: ou desejo beber sozinho, trabalhando, ou beber sozinho, repousando, ou ir encontrar os amigos para beber, ir a um certo bar. Não há desejo que não corra para um agenciamento. O desejo sempre foi, para mim, se procuro o termo abstrato que corresponde a desejo, diria: é construtivismo. Desejar é construir um agenciamento, construir um conjunto, conjunto de uma saia, de um raio de sol

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